Em boa hora decidi dedicar parte do meu domingo a ouvir um senhor de seu nome Damien Rice. Já me tinha cruzado com a discografia deste rocker irlandês algumas vezes, mas em nenhum momento me senti particularmente tentado a descobri-la (talvez porque a excessivamente tocada “Blower’s Daughter” desencorajava outras incursões exploratórias...).
A verdade, porém, é que os dois principais álbuns de Damien Rice, “O” e “9”, são, no mínimo, imperdíveis (ficando ainda por conhecer os registos ao vivo bem como um B-Sides). Tratam-se de discos tremendamente coerentes, estruturados numa lógica quase operática e onde cada música consegue, surpreendentemente, completar e superar a anterior. É verdade que, em termos gerais, sempre gostei de temas predominantemente acústicos e de compasso lento (o que aliás muito me seduziu na sonoridade folk alternativa de Ryan Adams), e por isso gostar de Damien Rice não seria propriamente inesperado. Contudo, é sobretudo a consistência que merece elogio: “O” e “9” têm, em minha opinião, um registo impressionante de faixas coesas, bem pensadas e excelentemente interpretadas, contrariando o chavão que ditaria a presença de, pelo menos, uma faixa feita à pressa...
Por todas, oiça-se “Delicate”, “Volcano”, “Cannonbal”, “Older Chests”, “Amie”, “Dogs”, “9 Crimes”, “Rootless Tree”, “Elephant” ou “Accidental Babies”, canções genialmente construídas e demonstrando que, afinal, “Blower’s Daughter” nem é das melhoras composições de Damien Rice.