Em vez de carro, devia antes ter vindo para o escritório de barco ou de submarino... E não é de espantar, visto que se a coisa continua assim até a estátua do Marquês de Pombal vai precisar de um par de galochas.
Não sei se já o disse por aqui, mas Lisboa é, definitivamente, alérgica à chuva... E os riachos (com trutas e tudo) que correm pelas laterais da Avenida da Liberdade não me deixam mentir, não!
Agora vou só ali escorrer as meias e despejar a água dos sapatos e já volto...
Depois de uma noite fenomenal, uma faixa fenomenal de deep house, ouvida agora mesmo, pela primeira vez, no regresso a casa. "Live Your Life", a nova música de Erick Morillo lançada pela label Subliminal, com a colaboração de Eddie Thoneick e vocalizações (excelentes) de Shawnee Taylor, é mais um exemplo em como a produção de música electrónica consegue, não raras vezes, alcançar melodias perfeitas, super harmoniosas e tremendamente virais. A comprovar aqui.
Uma Problematizante Perspectiva Marítima: Quando a maré sobe, sobem todos os barcos. Quando a maré desce, também descem todos os barcos... Ou aí já conta o tamanho da quilha?
Gastronomicamente falando, viver a vida é como comer sopa com croutons. Não nos importamos de sorver a sopa toda, mesmo a tragos contrariados, desde que, de tempos a tempos, tenhamos a oportunidade de saborear um ou outro crouton.
Não foi só o destino final. Foi a viagem, o ir, o chegar, o acordar pelas ruas percorridas em surdina. Foi a ansiedade partilhada, a emoção vivida como se fosse tua e aquelas horas consumidas a dois, de verdade, em felicidade genuinamente repartida. Foi a comoção conjunta de um momento que se guarda a sete chaves, a euforia destemida e assumida de um ápice intenso, imenso, em luz e sons tão meus mas agora nossos. Foi tudo isso, porque estavas lá, porque estavas mesmo lá, a meu lado. Por tudo isso, Obrigado.
O ambiente prometia, com o estádio de Coimbra cheio que nem um ovo e a multidão bem disposta, entretida a fazer a onda e a ensaiar coreografias enquanto os anfitriões da noite não chegavam. De repente, explosão de gritos - ouve-se “Space Oddity” de David Bowie e os U2 finalmente entram em cena ao som das famosas palavras “Ground control to Major Tom”. Luzes do estádio acesas, banda a caminhar para o palco em apoteose, acenando ao público e começando a tocar o (novíssimo) instrumental “Return of the Stingray Guitar” à medida que o vocalista Bono Vox corria como se fosse um pugilista, desafiando o público e gritando “Brioooosa” a quem quisesse responder. Depois, aos primeiros acordes de “Beatiful Day” apagaram-se as luzes, e a “claw”, o palco gigante de 360º que dá o nome à tournée (e que é um misto de garra, insecto e estação espacial), ganhou vida e identidade próprias.
Assim arrancaram os U2 para um concerto fantástico, memorável, misturando com mestria os temas clássicos com as músicas mais recentes (entre as quais brilhou “Magnificent”, para mim a música mais U2 dos últimos anos, a par com a já clássica “City of Blinding Lights”), arriscando mesmo tocar o novo tema “North Star” em versão acústica e a revisitar o esquecido "Mercy". O público, esse, não desiludiu, acompanhando a banda do início ao fim e cantando (gritando!) a plenos pulmões cada verso de cada tema. O corolário chegou com a mítica “I still haven’t found what I’m looking for”, quando um Bono conquistado desistiu de cantar (tirando os auscultadores de pré-escuta) e cedeu o palco ao público (“Noisy, noisy crowd” dissera ele minutos antes) num momento único, daqueles que se vivem apenas num concerto dos U2, e que foi captado num dos vários vídeos que já povoam o YouTube.
Sem deixar a multidão respirar entre canções, encadeando com mestria as passagens entre temas e encores, os U2 protagonizaram em Coimbra, no dia 2 de Outubro, uma exibição extraordinária (não só do ponto de vista musical), daquelas que arrancam ovações valentes, deixando a anos luz o último concerto que deram em Portugal (em Alvalade, no Verão de 2005) e que já então recolhera enormes elogios. Num instante, pouco mais de 2 horas e 24 músicas depois, acabava a noite, em silêncio imposto a uma multidão contrariada que clamava por mais. Foi, a todos os títulos, um concerto memorável para os quase 50 mil presentes, de entre os quais mesmo os menos-fãs se confessavam, afinal, rendidos e convencidos, à semelhança dos críticos e dos próprios U2 (como se lê no relato do site da banda). Tratou-se, sem dúvida, do melhor concerto rock a que alguma vez assisti (ainda por cima na minha Coimbra) restando-me apenas lamentar não ter assistido ao “encore” de Domingo… Numa palavra - Magnífico!
Para memória futura, fica a setlist:
Return of the Stingray Guitar Beautiful Day I Will Follow Get On Your Boots Magnificent Mysterious Ways Elevation Until The End Of The World I Still Haven't Found What I'm Looking For North Star (An Acoustic Version) Mercy In A Little While Miss Sarajevo City Of Blinding Lights Vertigo I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight (Remix) Sunday Bloody Sunday MLK Walk On One Where The Streets Have No Name Hold Me, Thrill Me, Kiss Me, Kill Me With Or Without You Moment Of Surrender
Porque há dias que correm mas ideias que perduram. Porque segundos há bem melhores que muitas horas e a soma das suas derivações. Porque a tirania da ampulheta não quebra mas permite guardar momentos em palavras. Porque há tanto para viver mas apenas breves instantes para o fazer. Brevemente por aqui, porque não há tempo para mais.
