Regressado do coração dos infernos, que é como quem diz, de mais uma época de estudo, julgo merecer desabafar por aqui, em jeito de reflexões articuladas. Vejamos, pois, o que me vai na alma:
(1)
Agora já me lembro porque nunca gostei muito de estudar – é chato e deprimente como o raio!
(2)
O sofrimento de estar em casa a estudar (em pé, caminhando de um lado para o outro, tal como quem dá uma palestra) é moderadamente mitigado pelo facto de, volta e meia, espreitar pela janela e ter uns laivos do Mundo que passa – sem mim - lá por fora. Entre esses laivos, há que destacar dois factos que alimentaram a minha revolta ferozmente. Desde logo, a besta da empregada dos vizinhos do primeiro andar do prédio em frente ao meu passa a vida ao telefone, de manhã, à tarde e à noite, debruçada à varanda ou em qualquer janela da casa que consiga abrir. Se calhar, pagam-lhe para isso… Ou então tem dois trabalhos, um deles como técnica de call-center, ou como inspectora telefónica de janelas, postigos, varandins e marquises… Em contraste (ou nem por isso), o vizinho do quinto andar é um inútil do pior: levanta-se de manhã e vai-se sentar à varanda de papo para ar, a apanhar sol como se estivesse na praia, mexendo-se esporadicamente que nem um lagarto… Era rebentar-lhe a boca toda com um dicionário jurídico, só por ele se atrever a fazer aquilo mesmo à minha frente, à descarada, enquanto eu pratico um horário de estudo de 12 horas por dia, com 1 hora para almoçar e jantar…
(3)
Depois dos primeiros exames (falta mais um), voltar ao escritório também não é propriamente a maravilha que tinha imaginado – como estive fora a estudar, toda a gente tem a sensação que eu voltei de umas largas e revigorantes férias, sentindo uma necessidade incontrolável de me despejar trabalho em cima, que nem confettis, para comemorar o meu retorno… Bom, bom, era comemorar o feito com uma espera à antiga, daquelas com enxadas e paus, e partir os dentes todos ao tal vizinho do quinto andar usando um Código Civil anotado, só para eles verem quem trabalha…